The Will To Live

“No dia 11 de novembro de 1997,  Veronika decidiu que havia – afinal! – chegado o momento de se matar.  Limpou cuidadosamente seu quarto alugado num convento de freiras, desligou a calefação, escovou os dentes e deitou-se.

Na mesa de cabeceira , pegou as quatro caixas de comprimidos para dormir. Ao invés de amassa-los e misturar com água, resolveu toma-los um a um, já que existe uma grande distancia entre a intenção e o ato, e ela queria estar livre para arrepender-se no meio do caminho. Entretanto, a cada comprimido que engolia, sentia-se mais convencida: no final de cinco minutos,  as caixas estavam vazias.

Acreditava ser uma pessoa absolutamente normal. Sua decisão de morrer devia-se a duas razoes muito simples, e tinha certeza que, se deixasse um bilhete explicando, muita gente ia concordar com ela.

A primeira razão: tudo em sua vida era igual, e – uma vez passada a juventude – a tendência era que tudo passasse a decair, a velhice começasse a deixar marcas irreversíveis, as doenças chegassem, os amigos partissem. Enfim, continuar vivendo não acrescentava nada; ao contrário, as possibilidades de sofrimento aumentavam muito.

A segunda razão era mais filosófica: Veronika lia jornais, assistia TV, e estava a par do que se passava no mundo. Tudo estava errado, e ela não tinha como consertar aquela situação – o que lhe dava uma sensação de inutilidade total .

Aos 24 anos, depois de ter vivido tudo que lhe fora permitido viver – e olha que não foi pouca coisa! – Veronika tinha quase certeza de que tudo acabava com a morte. Por isso escolhera o suicídio: liberdade, enfim. Esquecimento para sempre.

O estômago, começava a dar voltas, e ela sentia-se muito mal. “Engraçado, pensei que uma dose excessiva de calmantes me faria dormir imediatamente”. Mas o que estava acontecendo era um estranho zumbido nos ouvidos, e a sensação de vomito.

Decidiu esquecer as cólicas, procurando concentrar-se na noite que caia com rapidez, nos bolivianos, nas pessoas que começavam a fechar suas lojas e sair. O barulho no ouvido tornava-se cada vez mais agudo, e – pela primeira vez desde que tomara os comprimidos, Veronika sentiu medo, um medo terrível do desconhecido.

Mas foi rápido. Logo perdeu a consciência.”

Já perdi as contas de quantas vezes ouvi pessoas criticarem Paulo Coelho (e a grande maioria das vezes o fazem sem argumentos, mania incômoda que muitas pessoas tem de apenas repetir a opinião alheia mesmo sem o conhecimento da razão pela qual esta foi dada), nunca fui uma pessoa de ler muitos livros, até gostaria de ser, mas para ler um livro o tema tem que me atingir em cheio. Eu tenho que ver um pouco de mim ou da minha personalidade refletida naquele material e isso tem que me fazer uma pessoa melhor, senão eu não vejo muito sentido de estar ali horas e horas sentado numa cadeira lendo aquelas palavras que em nada me alterarão.

Verônica me alterou.

Acho que todos nós já chegamos a algum ponto das nossas vidas, não importa o quão vivido ou não você seja, em que nos perguntamos: “E agora?”. Na vida estamos de alguma forma programados: você acorda, vai para o seu trabalho, volta pra casa, fica no computador, dorme, duas vezes na semana sai para beber com seus amigos, enche a cara, dorme, acorda, trabalho…

Rotinas são desesperadoras. Elas até podem te passar um sensação de pseudo-segurança ou felicidade, mas acredite essa impressão é falsa. A repetição destrói. Relacinementos, trabalho, projetos, vidas…apenas destrói.

Poster do filme dirigido pela Emily Young que estreiou no circuito nacional no último dia 21. O filme ainda continua sem destribuidora em outros países.

Poster do filme dirigido pela Emily Young que estreiou no circuito nacional no último dia 21. O filme ainda continua sem destribuidora em outros países.

Ler “Veronika Decide Morrer” foi uma das melhores coisas que eu já fiz na vida, sem exagero. É impossivel não se alterar com a trajetória daquela mulher que tinha tudo na vida, decide se suicidar para não ver o declínio dela, não consegue sucesso em sua tentativa, mas causa um dano irreversível a uma artéria do coração, tendo então uma setença de morte declarada e poucos dias para viver. E é nesses poucos dias que Verônica, dentro de um hospício, recupera a vontade de viver mesmo sabendo que já não seria possível o fazer por muito tempo.

Ontem tive a oportunidade de assistir ao filme (onde quem faz o papel título é a Sarah Michelle Gellar) e apesar de todas as alterações (que foram muitas), a essência do filme continua a mesma e a mensagem é passada a frente através da boa direção da jovem Emily Young.

Nunca li ainda uma outra obra do Paulo Coelho, mas o pretendo fazer em breve, tenho muito orgulho em saber que ele é brasileiro e contemporâneo meu, não se pode dizer isso de todos os grandes nomes da literatura mundial.

Muto obrigado Paulo Coelho por este livro que funcionou para mim como uma potente injeção de vida.

3 Responses to The Will To Live

  1. Fabio diz:

    As pessoas criticam Paulo Coelho como criticaram Jorge Amado no início de sua carreira por sua linguagem pesada, “gordurosa”. Também criticaram muitos outros nomes que hoje caem em provas de vestibular como se fossem clássicos parnasianos “com livro de apreço ao sro diretor”. As pessoas, na verdade, temem o novo.

  2. Alice diz:

    “Ler “Veronika Decide Morrer” foi uma das melhores coisas que eu já fiz na vida, sem exagero.”
    Comigo foi assim também.
    Sempre ouvi críticas ao Paulo Coelho, críticas infundadas… Na maioria eram críticas repassadas de gente que nunca parou para ler nada dele. Não posso dizer nada das outras obras, afinal, só li Veronika.
    Mas defintivamente, esse livro mudou a minha rotina e a minha maneira de ver a vida! Já li muitas e muitas vezes, e toda vez que leio consigo extrair algo de novo. Além de tudo, é um livro muito gostoso de ler.

    http://www.muitomelhorqueatuaex.wordpress.com

  3. ymoura diz:

    Bom post.

    No mínimo serviu de publicidade ao livro, eu me interessei 😛

    Vou procurar lê-lo. 😀

    Keep writing, luck.

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